
O NOME DOS ANÔNIMOS
Quando a Angela mostrou em aula pela primeira vez esses retratos que andava fazendo pelas ruas de Porto Alegre, ainda antes do início da pandemia, soava estranho que ela os chamasse de anônimos invisíveis. Vinha com a fotografia e dizia este é o Zig, esta, a Dona Maria e aqui o Seu Zé da Barba, o Mouro, a Marli, o Pedro, a Giulia Victoria, a Aneli. Todos tinham nome e todos tinham imagem. Logo percebi, no entanto, que esses personagens continuavam invisíveis ao olhar dos passantes e que seus nomes eram realmente desconhecidos de quase todos.
Era a Angela que se interessava por eles e, despachada do jeito que só ela, perguntava o nome e pedia a imagem. Dedicava um tempo à interação, à troca, à conversa franca, à risada. Nada de fotografia roubada de longe, nada de proselitismo ou vitimização. Há respeito genuíno, curiosidade, proximidade e empatia. Quem quiser enxergar, está tudo ali nas fotos, basta retribuir o olhar dos invisíveis anônimos.

